Sumo de Laranja e Diabetes: Existe uma relação?

A diabetes é uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e a sua prevalência aumenta a cada ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a diabetes foi responsável por 1,5 milhões de mortes em 2019, sendo que 48% dessas mortes ocorreram antes dos 70 anos. Apesar da taxa de mortalidade associada a esta doença ter diminuído em Portugal, ainda é significativa. Por isso, é essencial compreender a doença e como a podemos prevenir. Neste artigo vamos dar-lhe a conhecer as bases científicas da diabetes, explicar como o que comemos (ou bebemos) pode influenciar o curso da doença e quais as suas consequências a curto–e longo-prazo. Para tal, apresento-vos o caso clínico do “Sr. Barbosa”, um nome fictício de um exemplo real.

 

 

O que é a Diabetes?

 

A diabetes, frequentemente referida como “a doença silenciosa”, é uma condição crónica que reduz ou impede a capacidade do corpo de utilizar a glicose, o principal tipo de açúcar no sangue, para obter energia. No centro deste problema está o pâncreas, um órgão vital que produz insulina, a hormona responsável para garantir o correto metabolismo da glicose. Quando a insulina se encontra em falta ou se torna ineficaz, a glicose acumula-se no sangue, criando um desequilíbrio prejudicial que leva ao desenvolvimento da diabetes. Essa disfunção metabólica, se não for tratada e rigorosamente monitorizada e controlada, pode desencadear uma série de complicações graves, danificando os vasos sanguíneos, nervos, rins, olhos e até mesmo o coração.

 

Tipos de Diabetes

 

Existem dois tipos principais de diabetes:

 

  • Diabetes Mellitus Tipo 1: De origem autoimune, o sistema imunológico ataca e destrói as células beta no pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. A falta absoluta de insulina leva a níveis elevados de glicose no sangue;
  • Diabetes Mellitus Tipo 2: Caraterizado pela resistência à insulina pelo corpo ou pela produção insuficiente de insulina. Este tipo de doença é o mais comum e está frequentemente associado a fatores de risco modificáveis, como a obesidade, sedentarismo e má alimentação. É aqui que a medicina preventiva pode atuar eficazmente.

 

A diabetes não controlada pode levar a várias complicações graves em diversos órgãos do corpo:

  • Doenças cardiovasculares: aumenta o risco de doenças cardíacas como a doença coronária e enfartes, hipertensão, AVCs e tromboses.
  • Doenças renais, levando à insuficiência renal.
  • Afetação dos nervos (Neuropatia diabética): em estados mais avançados, pode haver perda de sensibilidade, formigueiro e dor principalmente dos pés. É por este motivo que os doentes diabéticos realizam frequentemente a consulta do pé diabético, com um/a enfermeiro/a especializado.
  • Afetação ocular (Retinopatia diabética), que pode conduzir à perda de visão.
  • Amputações, principalmente dos pés. Isto ocorre em casos limite.

A deteção precoce, o controlo adequado dos níveis de glicose no sangue e ter um estilo de vida saudável são medidas essenciais para prevenir estas complicações.

 

Como se diagnostica a diabetes?

 

A diabetes nem sempre se apresenta com sintomas óbvios, mas existem alguns sinais que nos podem ajudar a identificar a presença desta doença. Perante uma suspeita de diabetes, é fundamental procurar ajuda médica. Através de uma análise individualizada e exames específicos, poderá obter um diagnóstico e discutir com o seu médico um plano de tratamento.

Sabia que existe uma calculadora oficial do risco de desenvolver diabetes tipo 2 através do portal do SNS 24? Já calculou o seu risco?

 

Sintomas de Diabetes

 

Nesta secção descrevemos os sintomas típicos desta doença crónica. No entanto, alguns destes sintomas não são específicos, podendo estar presentes noutras doenças.

  • Urinar com mais frequência, especialmente à noite;
  • Sede excessiva, levando a um aumento da ingestão de líquidos e à presença de boca seca.
  • Perda de peso inexplicável
  • Fadiga e falta de energias, mesmo após descansar
  • Visão turva
  • Cicatrização lenta de feridas abertas.

 

Lembra-se do Sr. Barbosa? Conseguimos identificar alguns sintomas que nos fazem suspeitar de diabetes, tais como o cansaço extremo e a sede incontrolável. De seguida, discutimos os seus hábitos alimentares e estilo de vida. Não costuma ir ao médico, as últimas análises foram há 5 anos e já indicavam um estado pré-diabético. No entanto, ele decidiu não “fazer mais nada”. Diz fazer pouco exercício físico. A nível alimentar refere comer ao pequeno-almoço uma tosta com doce de morango e bebe 1 litro de sumo de laranja natural diariamente.

 

 

Exames diagnósticos

 

O primeiro passo na investigação da diabetes são as análises ao sangue. Valores como a glicose em jejum ou a Hemoglobina A1c confirmam o diagnóstico. No entanto, um único resultado anormal pode não ser suficiente para estabelecer o diagnóstico e pode ser necessário repetir as análises em 2 semanas. Na tabela abaixo encontra os valores de referência para a glicose em jejum e HbA1c.

Em algumas situações, como quando a glicemia em jejum está próxima do limite superior dos valores normais, pode ser útil a realização de um teste de tolerância à glicose (PTOG). Este teste avalia a resposta do organismo ao açúcar através da medição dos níveis de glicose no sangue em diferentes momentos: em jejum, 1 hora e 2 horas após a ingestão da glicose.

O Sr. Barbosa realizou exames de sangue que confirmaram o diagnóstico de diabetes tipo 2. Preocupado, o Sr. Barbosa quis saber mais sobre esta doença e como tratá-la. Juntos, criámos um plano de ação para diminuir os valores de glicose e de HbA1c. Em primeiro, decidimos referenciá-lo para uma avaliação oftalmológica e uma consulta do pé diabético. Posteriormente, enviei-lhe orientações alimentares e de atividade física personalizadas aos seus gostos e atividade profissional e familiar.

 

Alterações do Estilo de Vida: O pilar na gestão da Diabetes

 

A diabetes tipo 2 está frequentemente associada a fatores de risco modificáveis tais como a obesidade, o sedentarismo e a má alimentação. Adotar um estilo de vida saudável ajuda a prevenir ou atrasar o desenvolvimento da doença.

 

Alimentação Saudável

Uma dieta nutritiva e equilibrada é vital para controlar os níveis de glicose no sangue. Priorize alimentos ricos em nutrientes essenciais, com pouco teor de gorduras saturadas e pouco açúcar. Dê ênfase aos alimentos frescos, legumes e vegetais, bem como a proteínas magras. Também, diminuir o consumo de alimentos processados e bebidas açucaradas pode baixar o risco de diabetes.

 

Ao dar preferência aos alimentos com baixo índice glicémico, ajuda o organismo a dirigir e absorver mais lentamente os nutrientes e diminui consequentemente os níveis de açúcar no sangue após as refeições. Queremos manter os níveis estáveis de glicose e evitar picos bruscos.

 

Lembre-se, uma alimentação saudável não é uma alimentação restritiva. Explore vários ingredientes e métodos de preparação. Familiarize-se com novos sabores!

 

O Sr. Barbosa aprendeu os básicos da alimentação na diabetes e saber quais os alimentos com menor índice glicémico ajudam-no a tomar decisões em prol da sua saúde. Apercebeu-se que o sumo de laranja natural bebido diariamente não é tão saudável como achava e agora bebe água que aromatiza com ervas aromáticas e fruta. A nutrição será um dos seus maiores aliados nesta jornada.

 

Atividade física regular

A prática regular de atividade física é outro componente essencial. É tão simples como caminhar 30 minutos diariamente — Reduz os níveis de açúcar (e colesterol!) no sangue, mantém um peso saudável e melhora o humor. A OMS recomenda 150 minutos semanais de atividade física moderada.

 

Controlo de Peso

A obesidade e sobrepeso são fatores de risco significativos para o desenvolvimento de diabetes. Quando o corpo tem mais gordura, precisa de mais insulina para regular os níveis de glicose do sangue. Com o tempo, este aumento da demanda de insulina leva ao “burnout” do pâncreas. Eventualmente, o pâncreas não irá mais conseguir produzir insulina e os níveis de glicose aumentam. Isto é a diabetes!

 

Foi também comprovado que a gordura ao redor da cintura é especialmente preocupante. As células na região abdominal produzem moléculas pró-inflamatórias que contribuem para a resistência à insulina.

 

Um perímetro abdominal superior a 94 cm no homem ou 80 cm na mulher em conjunto com um IMC maior que 25 pode levar a um aumento do risco de desenvolver diabetes.

 

Gestão do Stress

Controlar os níveis de stress crónico pode ajudar a manter a estabilidade dos níveis de glicose no sangue e o bem-estar geral. A prática de técnicas de relaxamento como o yoga, a respiração e a meditação são algumas sugestões com benefício para muitos utentes.

 

Medicação hipoglicemiante

A indústria farmacêutica fez avanços significativos ao longo dos anos, tendo sido desenvolvidos uma série de medicamentos para o controlo glicémico na diabetes. Nem sempre é necessário iniciar medicação e em determinados casos é possível controlar a doença apenas com mudanças do estilo de vida.

 

No entanto, muitos utentes necessitam e, cabe ao seu médico, após colher toda a sua informação clínica, estabelecer objetivos, personalizar o tratamento hipoglicemiante mais adequado e reavaliar frequentemente a adesão terapêutica.

 

Desvendar a diabetes e caminhar para uma vida mais saudável

A Diabetes, embora silenciosa, não precisa de ser uma sentença de sofrimento crónico. Através da informação científica, consciencialização e adoção de um estilo de vida saudável, podemos prevenir, retardar a doença e/ou as suas complicações e, em algumas situações, até mesmo reduzir a quantidade de medicação.

 

O caso do Sr. Barbosa serve como lembrete de que nunca é tarde para tomar as rédeas da sua saúde.

 

Pontos-chave para recordar

  • A diabetes é uma doença crónica que afeta a capacidade do corpo de utilizar a glicose como fonte de energia;
  • A diabetes tipo 2 é a mais comum e está frequentemente associada a fatores de risco modificáveis com a obesidade, sedentarismo e má alimentação;
  • A deteção precoce e controlo rigoroso da glicemia são essenciais para prevenir complicações graves;
  • Adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma alimentação equilibrada, atividade física regular e controlo do stress é fundamental. Em alguns casos, sob orientação médica, pode ser necessária a associação de medicamentos hipoglicemiantes.

Dicas para o dia-a-dia

  • Consulte o seu médico regularmente para acompanhamento e avaliação ;
  • Realize exames de rastreio, quando recomendados;
  • Monitorize os níveis de glicose no sangue;
  • Participe em grupos de apoio ou programas de educação em diabetes
  • Mantenha-se informado sobre as últimas diretrizes no tratamento e gestão da diabetes.

Lembre-se que não está sozinho. Com o apoio e recursos certos, poderá viver uma vida plena e mais saudável.

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