DPOC: Como o tabaco destrói os seus pulmões

Sabia que o tabaco é uma das principais causas evitáveis de morte a nível mundial? Os efeitos nocivos do tabaco no sistema respiratório estão bem documentados e continuam a ser um tema central na promoção da saúde pública. Fumar é um fator de risco importante no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, AVCs, cancro de pulmão, cancro orofaríngeo, entre outros. Além disso, o tabaco também provoca determinadas doenças respiratórias tais como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).

 

Segundo dados estatísticos de 2019, aproximadamente 14% da população portuguesa com 15 ou mais anos fumavam diariamente. No gráfico abaixo, retirado da base de dados da OECD, podem consultar as diferentes percentagens entre diversos países. Embora as taxas de tabaco estejam em declínio, talvez pela aposta nas campanhas de prevenção tabágica e pelo aumento da consciencialização dos riscos associados, ainda há um longo caminho para percorrer.

 

Neste artigo, exploramos o impacto do tabaco nos pulmões com a história do João, um paciente com um nome fictício da minha prática clínica. O João é um homem de 54 anos e começou a fumar aos 14 anos — segundo ele, por “pressão de grupo”. Nos últimos 15 anos, desenvolveu uma tosse persistente, com “algum catarro, mas mais pela manhã”, à qual já “está habituado”. Veio à minha consulta médica por queixas cada vez mais frequentes de “dificuldade a respirar” quando sobe escadas ou faz atividades mais intensas.

 

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC): O que é e como aparece?

Imagine os seus pulmões como balões. Quando inspira, faz força com os músculos torácicos e os balões enchem-se de ar. Quando expira, os músculos relaxam e o ar saí passivamente. Outro conceito importante a reter é a existência de alvéolos, que são pequenas estruturas nos pulmões, onde ocorre a troca de oxigénio e dióxido de carbono com o sangue.

 

Efeitos do Tabaco nos Pulmões

Quando se fuma, os produtos químicos nocivos do cigarro são inalados e afetam os pulmões de diferentes maneiras:

  • Bronquite crónica: as vias respiratórias (os tubos que levam o ar que respiramos aos pulmões) ficam inflamadas e produzem muito muco. Os tubos acabam por ficar cada vez mais estreitos, o que, por um lado, dificulta a passagem do ar e, por outro, faz com que as pessoas façam mais esforço para respirar. Já reparou que pessoas com bronquite crónica tossem muito e têm muita expetoração?
  • Enfisema: As paredes dos alvéolos começam a romper-se e destruir-se. Isto diminui a área disponível para haver troca de gases, o que torna mais difícil a respiração. Se nos lembrarmos do João, reparamos que ele começou a ter cada vez mais dificuldade em realizar atividades porque tinha falta de ar.

 

Este vídeo demonstra a anatomia dos pulmões, com a traqueia, os brônquios, bem como a sua posição no corpo humano.

 

Fatores de Risco

Tal como referimos anteriormente, a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma patologia respiratória grave provocada maioritariamente pelo fumo do tabaco. No entanto, uma minoria dos casos são provocados pela inalação prolongada a poluentes ambientais ou até mesmo pela exposição laboral a determinadas poeiras, produtos químicos ou fumos. Por exemplo, trabalhadores que manipulam fumo de lenha ou carvão estão mais vulneráveis.

Durante a consulta, questionei o João sobre a quantidade de cigarros fumados. Além de ser fumador de longa data, fuma cerca de 1 maço por dia. No seu emprego atual, faz pausas frequentes para fumar. Também verifiquei que tem as vacinas obrigatórias em dia. Nunca teve contacto com poluentes ambientais ou químicos.

 

O número de cigarros fumados afeta o risco de desenvolver DPOC?

A resposta é: SIM! Vários estudos comprovaram a associação entre o número de cigarros fumados com o risco de desenvolver DPOC. Esta relação é conhecida como dose-efeito: quanto maior o número de cigarros fumados e por um maior período de tempo, maior é o risco de danificar os pulmões e provocar uma doença pulmonar obstrutiva crónica.

 

Como avaliar a presença desta doença?

Quando os médicos, baseando-se na história clínica e nos sintomas, suspeitam da presença da DPOC, solicitam testes confirmatórios para obter um diagnóstico mais preciso. Os principais métodos de avaliação incluem:

  • Provas da Função Respiratória: Estes testes são fundamentais para diagnosticar a doença e avaliar a sua gravidade. Dentro destas provas inclui-se a espirometria, a prova de débito-volume, a avaliação da força muscular e a medição da capacidade de difusão (DLCO). Concomitantemente à espirometria, realiza-se também o teste da reversibilidade com broncodilatadores, que permite diferenciar a DPOC de outras patologias como a asma.
  • Radiografia de Tórax: Pode ajudar a excluir outras doenças respiratórias ou identificar sinais de DPOC avançada;
  • TC de Alta Resolução (TCAR): Pode detetar alterações pulmonares como o enfisema ou outras alterações das vias áreas. É útil em casos mais complexos ou quando existem resultados inconclusivos.

O diagnóstico da DPOC é resultado da avaliação integral e personalizada de cada indivíduo pelo seu médico. Os métodos de avaliação permitem um diagnóstico mais preciso e ajudam a orientar o tratamento mais adequado.

Na consulta foram pedidas análises, um raio-x do tórax e provas funcionais respiratórias (PFR). A radiografia não mostrou alterações significativas e as PFR confirmaram a presença de uma obstrução irreversível ao fluxo de ar.

 

O que esperar da evolução da DPOC?

A doença pulmonar obstrutiva crónica é uma patologia crónica progressiva, ou seja, com o tempo, os sintomas e a gravidade tendem a piorar. Além da tosse persistente e da falta de ar, os indivíduos com DPOC podem experienciar:

  • Sibilos Respiratórios (assobios” ao respirar) — Inicialmente, estes sons podem ser audíveis apenas com o uso do estetoscópio, mas à medida que a doença avança, podem-se notar na respiração normal;
  • Sensação de aperto no peito — Uma maior pressão e dificuldade para respirar, frequentemente descrita como um aperto ou pressão no peito;
  • Infeções respiratórias frequentes — Maior suscetibilidade a gripes, constipações e pneumonias devido à diminuição da capacidade do sistema imunológico de combater infeções;
  • Fatiga — A sensação constante de cansaço pode ser resultado da dificuldade respiratória e do esforço adicional necessário para realizar atividades do dia-a-dia.

 

Medidas terapêuticas na DPOC

Apesar da progressão desta doença, existem várias medidas e tratamentos que podem ajudar a atrasar o agravamento da doença e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados:

 

🛑 Cessação Tabágica

Parar de fumar é a medida mais eficaz para atrasar a progressão da DPOC. Existem programas e consultas de cessação tabágica disponíveis no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e em várias instituições privadas. Estes programas oferecem um acompanhamento multidisciplinar, incluindo médicos, enfermeiros e psicólogos, para apoiar os indivíduos no processo de deixar de fumar.

Algumas pessoas podem necessitar de terapêutica de substituição de nicotina, cuja função é ajudar a reduzir os sintomas de abstinência e a substituir a necessidade de tabaco. Entre os produtos de venda livre, o Nicorette é bastante conhecido e utilizado. Casos que necessitam de intervenção farmacológica, existem medicamentos comparticipados como o bupropiom e a vareniclina. O recurso a medicação deve ser sempre avaliado e supervisionado pelo seu médico, que determinará consigo qual a abordagem mais adequada para si.

A combinação de apoio comportamental e terapias de substituição da nicotina pode aumentar significativamente as taxas de sucesso na cessação tabágica, melhorando a saúde pulmonar e a qualidade de vida dos pacientes com DPOC.

Para todos aqueles que não querem aumentar o risco de doenças pulmonares (e não só!), previna-se e não comece a fumar. A prevenção é a melhor estratégia para evitar os potenciais danos causados pelo tabaco.

 

💉 Vacinação

Está comprovado que a vacinação anual contra o vírus da gripe e da Covid-19, bem como a vacina contra o pneumococo, responsável por pneumonias, é eficaz na estabilização da DPOC. Estas vacinas ajudam a prevenir infeções respiratórias graves que podem desencadear exacerbações da DPOC e, consequentemente, hospitalizações.

 

🫁 Medicação e Reabilitação Pulmonar

O uso de broncodilatadores e glucocorticoides inalatórios é fundamental para aliviar os sintomas da DPOC e prevenir exacerbações. A escolha da medicação deve ser baseada na gravidade da doença, na história de exacerbações ou internamentos, bem como na presença de sintomas.

  • Broncodilatadores: Relaxam os músculos ao redor das vias aéreas, facilitando a respiração. Pode ser de curta ou de longa ação.
  • Glucocorticoides inalatórios: Ajudam a reduzir a inflamação das vias aéreas.

A escolha da combinação de medicamentos ou o recurso a medicação deve ser personalizada e ajustada consoante a resposta do paciente ao tratamento. Consulte o seu médico para definirem uma estratégia terapêutica adequada.

Além do tratamento farmacológico, existem também programas de reabilitação pulmonar, compostos por exercícios supervisionados por profissionais de saúde, com o objetivo de melhorar a capacidade de exercício, a resistência e qualidade de vida. O fortalecimento muscular melhora a eficiência respiratória.

 

🌬️ Oxigenoterapia

A suplementação com oxigénio, ou oxigenoterapia, tem indicações muito específicas e pode ser necessária em alguns casos mais avançados de DPOC.

O uso de oxigénio deve ser sempre orientado pelo médico.

O João mostrou-se motivado para mudar. Sabe que a DPOC é uma doença crónica e não tem cura, mas pode minimizar ao máximo os seus sintomas, exacerbações e progressão. Iniciou terapia de substituição da nicotina e recebeu apoio comportamental para manter a motivação e evitar fumar. Foram também administradas a vacina da gripe, a vacina contra o pneumococo e a dose de reforço contra a COVID-19.

Nas consultas de reavaliação estruturamos pequenas mudanças no dia-a-dia do João a nível nutricional e da atividade física. Após 6 meses sentia-se melhor, perdeu peso pelas medidas positivas que conseguiu implementar no seu quotidiano.

 

A importância da cessação tabágica

A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma patologia pulmonar grave e debilitante, maioritariamente causada pelo tabaco. Não fumar ou parar de fumar é a medida mais eficaz para prevenir ou atrasar a progressão da DPOC e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

As campanhas de prevenção e consciencialização continuam a ser fundamentais para diminuir a incidência do tabagismo e as consequências irreversíveis que o tabaco provoca no nosso organismo e pulmões.

O exemplo do João mostra-nos que é possível viver uma vida mais saudável e ativa, mesmo com o diagnóstico da doença. Associar uma alimentação equilibrada, baixa em produtos pro-inflamatórios, a prática de atividade física regular e adequada às necessidades e patologias de cada indivíduo e acompanhamento médico regular, são os pilares essenciais para a gestão eficaz desta doença.

Para além de melhorar a função pulmonar, essas medidas contribuem para o bem-estar geral e qualidade de vida dos pacientes com DPOC.

 

Websites & Contactos de interesse

Saúde Preventiva: Conheça os Rastreios Médicos Fundamentais

Os rastreios médicos são essenciais para a prevenção de doenças e a manutenção de um corpo e mente saudáveis. A prevenção inclui a identificação de doenças antes que os sintomas se manifestem, possibilitando tratamentos mais precoces e aumentado as probabilidades de tratamento e eventual cura. Em Portugal existem um conjunto de diretrizes da DGS em concordância com outras entidades internacionais, que orientam a comunidade médica e a população geral sobre os rastreios mais importantes para as diferentes faixas etárias e grupos de risco.

Neste artigo, apresentamos os principais rastreios recomendados em Portugal para a população geral, incluindo a sua periodicidade e os métodos utilizados. Importante referir que grupos de risco ou com antecedentes familiares e/ou patológicos de relevo podem ter timings diferentes para os rastreios. É importante consultar o seu médico de família para uma análise personalizada dos rastreios que deverá fazer.

 

Rastreio do Cancro de Mama

 

População-alvo: Mulheres 50+ anos até 69 anos

Método: Mamografia — segue a classificação BIRADS

Periodicidade: Se resultado BIRADS 1 ou 2 (ou seja, não existe suspeitas de alto risco), deverá repetir a mamografia a cada 2 anos

 

A mamografia é um exame fundamental para a deteção precoce do cancro de mama, permitindo identificar tumores de pequenas dimensões que ainda não são palpáveis. Esta deteção precoce salva vidas!

 

Atualização das diretrizes dos EUA: Este mês, os EUA atualizaram as guidelines para o rastreio do cancro de mama, recomendando o início mais cedo — aos 40 anos (em vez dos 50) até aos 74 anos. Esta mudança deve-se ao aumento significativo do número de casos de cancro em mulheres na faixa dos 40 anos.

 

Rastreio do Cancro do Colo do Útero

 

População-alvo: Mulheres 25+ até aos 60 anos

Método: Citologia vaginal (comummente designado por papanicolau) com pesquisa do DNA do HPV

Periodicidade: Se ambos os exames forem negativos, a cada 5 anos.

 

O vírus do papiloma humano, ou HPV, possuí várias estirpes, sendo que algumas, tais como o HPV 16 e 18, apresentam maior risco de desenvolver cancro do colo do útero. Como medida preventiva, a vacinação contra o HPV foi inserida no Plano Nacional de Vacinação, abrangendo tanto raparigas como rapazes, já que os homens podem ser portadores e transmissores do vírus. Esta vacina é fundamental para reduzir a incidência de infeções por HPV e diminuir o risco de evolução para lesões pré-cancerígenas.

 

Rastreio do Cancro Colo-retal

 

População-alvo: Homens e Mulheres 50+ anos até aos 74 anos

Método: Teste da pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF), com 2 amostras de fezes

Periodicidade: Se negativo, a cada 2 anos

 

Caso o teste resulte positivo, o paciente deve ser submetido a exames mais invasivos, como a colonoscopia. A colonoscopia, normalmente realizada sob sedação, tem como objetivo a deteção de pólipos e identificar precocemente o cancro colo-retal. Este procedimento permite a visualização direta do interior do cólon e do reto, possibilitando também a remoção de pólipos.

 

Rastreio do Cancro da Cavidade Oral

 

População-alvo: Homens fumadores, 40+ anos e com hábitos alcoólicos

Método: Observação da cavidade oral

Periodicidade: A cada 2 anos

 

É um rastreio muito útil e realizado por médicos através da observação direta da boca e das estruturas que a compõem.

 

Rastreio do Cancro de Próstata

 

População-alvo: Homens 50+ anos até aos 75 anos

Método: Análises sanguíneas com determinação da PSA

Periodicidade: A cada 2 anos

 

Este rastreio suscita mais controvérsia na comunidade médica. A decisão de realizar este rastreio deve ser tomada em conjunto pelo médico e pelo paciente, sendo essencial que o paciente esteja informado sobre o possível sobrediagnóstico associado à determinação da PSA. Muitas vezes, valores elevados de PSA não estão associados com cancro ou hiperplasia prostática (aumento benigno da próstata, HBP). Fatores como uma infeção da próstata, ejaculação recente e até mesmo atividades que envolvam contacto com os genitais masculinos, como andar de bicicleta antes do exame podem aumentar os níveis de PSA, resultando em falsos positivos. Portanto, é importante discutir os benefícios e limitações desde rastreio para tomar uma decisão informada.

 

Rastreio da Diabetes

 

População-alvo: Adultos 45+ ou mais jovens com fatores de risco

Método: Análises ao sangue com determinação da glicemia em jejum e Hemoglobina A1c

Periodicidade: Se resultado normal, a cada 3 anos

 

Alguns dos fatores de risco para a diabetes incluem o excesso de peso, perímetro abdominal maior a 94 cm no homem e maior a 80 cm na mulher, sedentarismo, doenças cardíacas, entre outros. Pacientes já diagnosticados com diabetes têm indicação para realizar rastreios adicionais, como o teste da retinopatia diabética e a consulta do pé diabético, para identificar precocemente complicações frequentes e severas da diabetes.

 

Rastreio da Hipertensão

População-alvo: 18+ anos

Método: Medição da pressão arterial

Periodicidade: Anualmente

 

Tal como a diabetes, a hipertensão é, muitas vezes, silenciosas. Medir a pressão arterial regularmente ajuda na deteção precoce desta doença, prevenindo doenças cardiovasculares como enfartes, AVCs e tromboses.

 

Rastreio do Colesterol

 

População-alvo: Homens 40+ anos e mulheres 50+ anos, ou mais jovens caso existam fatores de risco

Método: Análises ao sangue com determinação do perfil lipídico (colesterol total, LDL, HDL, triglicéridos)

Periodicidade: Se resultados normais, a cada 5 anos

 

Este rastreio permite diminuir a incidência de doenças cardíacas e vasculares, diminuindo assim a mortalidade por estas doenças.

 

Rastreio da Osteoporose

 

População-alvo: Adultos 65+ anos, ou mais jovens com fatores de risco

Método: Densitometria óssea

Periodicidade:

 

A partir dos 50 anos, homens e mulheres devem realizar no seu médico de família uma avaliação do risco de desenvolverem uma fratura osteoporótica a 10 anos, utilizando a ferramenta FRAX-Port. Esta ferramenta calcula o risco com base em vários fatores clínicos. Dependendo do resultado, os pacientes são classificados conforme o grau de risco e, se considerado necessário, pode ser recomendada a realização de uma densitometria óssea para uma avaliação mais detalhada da saúde óssea. Casos com maior risco têm de imediato indicação para iniciar tratamento.

 

Rastreio do Aneurisma da Aorta Abdominal

 

População-alvo: Homens, fumadores ou ex-fumadores, entre os 65 e os 75 anos

Método: Eco-Doppler Abdominal

Periodicidade: Se normal, não há necessidade de repetir o exame

 

O aneurisma da aorta abdominal é uma doença grave e mais prevalente em fumadores do sexo masculino maiores de 65 anos. O rastreio baseia-se numa ecografia abdominal com doppler para observação da artéria aorta.

 

 

Previna-se e cuide da sua saúde

 

Os rastreios médicos são uma ferramenta poderosa na promoção da saúde e prevenção de doenças. Manter-se informado e comunicar ativamente com o seu médico pode fazer uma grande diferença na sua saúde e bem-estar a longo prazo. Tal como referi anteriormente, os dados apresentados neste artigo dependem de vários fatores e os critérios de inclusão de cada rastreio alteram-se consoante a idade, antecedentes patológicos e/ou familiares, bem como a presença de fatores de risco. Para discutir os rastreios mais adequados para si deverá sempre marcar consulta médica.

Lembre-se, a prevenção salva vidas!

 

Hipertensão e risco de doenças cardiovasculares: O que precisa de saber

A hipertensão, popularmente conhecida como pressão ou tensão arterial alta, é uma das doenças crónicas mais prevalentes a nível mundial. É definida como um aumento persistente e excessivo da pressão do sangue contra as paredes das artérias. A sua presença pode causar sérios problemas de saúde cardiovasculares tais como enfartes, AVCs e tromboses. Também poderá haver afetação de outros órgãos como é o exemplo dos rins, provocando uma insuficiência renal.

Neste artigo, investigaremos a relação entre hipertensão e o risco de doenças cardíacas e vasculares. Além disso, discutiremos os principais fatores de risco, bem como medidas de prevenção e tratamento.

O que é a pressão arterial?

O sangue quando passa pelas paredes das artérias do corpo exerce uma determinada força ou pressão. Existem dois tipos de pressões:

  • Pressão arterial sistólica: é a pressão máxima que o sangue atinge quando o coração bate (contração);
  • Pressão arterial diastólica: é a pressão mínima que o sangue atinge quando o coração relaxa entre batimentos (dilatação)

Valores de referência

A Sociedade Europeia de Hipertensão atualizou as diretrizes para a abordagem da hipertensão em 2023, estabelecendo novos parâmetros para a classificação desta doença. A nova classificação incluí 7 categorias (listo as mais relevantes), com valores específicos para a pressão arterial sistólica e diastólica:

Categoria Pressão Arterial Sistólica (PAS)
mmHg
  Pressão Arterial Diastólica (PAD)
mmHg
Normal 120-129 e 80-84
Normal-Alta 130-139 e/ou 85-89
Hipertensão grau 1 140-159 e/ou 90-99
Hipertensão grau 2 160-179 e/ou 100-109
Hipertensão grau 3 ≥ 180 e/ou ≥110
Conheça os valores de referência para uma pressão arterial normal, bem como os valores de hipertensão arterial.

Além da avaliação da pressão arterial, que normalmente deve ser medida em várias ocasiões para entender o valor médio, os profissionais de saúde também consideram a presença (ou ausência) de outras doenças, história médica prévia, bem como a história familiar.

Como é que a hipertensão aumenta o risco de doenças cardiovasculares?

A hipertensão danifica as artérias e aumenta o risco de diversas doenças:

  • Endurecimento e estreitamento das artérias: ao longo do tempo, a pressão sanguínea elevada torna as artérias mais rígidas e estreitas, dificultando a circulação do sangue para o coração e outros órgãos. Isto pode levar ao desenvolvimento da doença arterial coronária (DAC), a qual é a principal causa de enfartes na atualidade.
  • Danos na parede arterial: as artérias tornam-se mais suscetíveis à formação de placas de ateroma. Quando estas placas se rompem, bloqueiam o fluxo sanguíneo e podem causar enfartes ou AVCs.
  • Aumento do trabalho do coração: como as artérias estão mais rígidas, o coração precisa de trabalhar mais para conseguir bombear o sangue a pressões mais altas. Isto provoca um aumento do tamanho do coração (hipertrofia ventricular) e o consequente enfraquecimento do músculo cardíaco, que a longo prazo, leva a doenças como a insuficiência cardíaca.

Quais são os sintomas de hipertensão?

Os sintomas da hipertensão muitas vezes não são percetíveis, razão pela qual é conhecida como uma doença “silenciosa”. No entanto, quando presentes, podem incluir dores de cabeça, falta de ar, tonturas, dor no peito, palpitações do coração e até sangramento nasal. No entanto, estes sintomas geralmente não ocorrem até que a pressão arterial atinja um nível perigosamente alto ou que a hipertensão cause danos a órgãos como o coração e os rins.

Como posso controlar a hipertensão?

Primeiramente, é necessário compreender o que causa a hipertensão e quais são os fatores que aumentam a probabilidade de sofrer desta doença. Só assim é possível implementar mudanças no seu dia-a-dia que podem ajudar a controlar a pressão arterial. Vamos a isso?

A hipertensão pode ser dividida em primária ou secundária. A hipertensão primária é a mais comum e é aquela que se desenvolve ao longo do tempo e está frequentemente associada ao estilo de vida.

Por outro lado, a hipertensão secundária depende de doenças subjacentes, como a síndrome da apneia obstrutiva do sono, doença renal, feocromocitoma, doenças da tiroide, gravidez, entre muitas outras. Muitas vezes, este tipo de hipertensão pode ser controlada e até mesmo revertida tratando a causa subjacente.

Fatores de Risco

Existem vários fatores de risco modificáveis que aumentam o risco de desenvolver hipertensão. A Medicina Preventiva e do Estilo de Vida tem a capacidade de atuar nos seguintes fatores de risco:

  • Excesso de peso e obesidade;
  • Falta de atividade física regular;
  • Alimentação rica em sal, gorduras saturadas e comidas processadas;
  • Tabaco e consumo excessivo de álcool
  • Colesterol alto (= hipercolesterolemia ou dislipidemia)
  • Diabetes

Prevenção e Mudanças do Estilo de Vida

Boas notícias! A hipertensão pode ser prevenida através de mudanças no seu estilo de vida. Aqui estão algumas estratégias para implementar:

  • Mantenha um peso saudável: nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente no contexto de algumas doenças como a síndrome do ovário poliquístico ou menopausa, que dificultam a gestão de peso. Além disso, profissões exigentes podem limitar o tempo disponível para a prática de exercício físico e promover o consumo de comidas rápidas e processadas, geralmente ricas em calorias. No entanto, é importante lembrar que com o devido acompanhamento profissional especializado e a obtenção de informação de confiança, é possível implementar estratégias eficazes para emagrecer e atingir metas de peso corporal saudáveis.
  • Adote uma alimentação saudável: uma dieta equilibrada e rica em frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras pode fazer uma grande diferença na sua saúde cardiovascular. Evite alimentos ricos em sal, gorduras saturadas e comidas processadas. Lembre-se, o seu prato deve ser colorido e diversificado!
  • Pratique atividade física regular: O exercício regular é um dos pilares da prevenção da hipertensão. Não só ajuda a manter um peso saudável, como também fortalece o coração, melhora a circulação e ajuda a reduzir o stress. Tente incluir pelo menos 30 minutos de atividade física moderada na sua rotina diária.
  • Limite o consumo de álcool: O consumo excessivo de álcool pode aumentar a sua pressão arterial e também levar ao ganho de peso. Tente evitar ou, caso seja difícil, limitar o consumo de álcool a um nível moderado (1 copo nas mulheres e 2 copos no homem).
  • Controlo do stress crónico: O stress a longo prazo pode contribuir para a hipertensão. Procure estratégias eficazes para gerir o stress, como técnicas de relaxamento, meditação, yoga ou qualquer atividade que ache relaxante e que lhe dê prazer.

Com que frequência devo fazer exames cardíacos se tenho pressão arterial alta?

Quando a causa da hipertensão ainda está a ser investigada, faz parte da avaliação inicial realizar uma série de exames para entendermos melhor a causa. Estes exames podem incluir, mas não estão limitados a, alguns dos seguintes:

  • Análises ao sangue: normalmente inclui um hemograma completo, determinação da função renal e hepática, perfil lipídico, a glicemia em jejum e a HbA1c, e o TSH. São importantes para entender a saúde atual do paciente e identificar possíveis fatores subjacentes que possam estar a contribuir para a hipertensão.
  • ECG: Um eletrocardiograma é uma ferramenta valiosa para descartar a presença de arritmias e determinar se existe hipertrofia cardíaca. A hipertrofia cardíaca é um alargamento do coração que pode ser um sinal de pressão arterial alta ou de outras condições cardíacas.
  • Ecocardiograma: Este exame ajuda o médico a obter uma visão interna do coração, permitindo-lhe ver o tamanho, a forma, e como o coração está a funcionar. É especialmente útil para identificar problemas estruturais do coração que possam estar relacionados com a hipertensão.

Qual o melhor tratamento para a hipertensão?

O tratamento mais adequado para um dado paciente depende de uma variedade de fatores individuais e deve ser sempre o resultado de uma decisão partilhada entre o médico e o paciente, tendo em consideração a sua individualidade.

Como primeira linha de tratamento, devem ser sempre implementadas mudanças no estilo de vida. Tais mudanças podem incluir a adoção de uma dieta saudável, a prática regular de atividade física, a limitação do consumo de álcool, entre outras. No entanto, por vezes, mesmo com essas alterações, a pressão arterial do paciente pode não estar suficientemente controlada.

Nessas situações e seguindo as diretrizes médicas atualmente em vigor, o seu médico poderá indicar o tratamento medicamentoso mais adequado para a sua situação específica. Juntos, médico e paciente podem então discutir e estabelecer um plano terapêutico personalizado, que atenda às necessidades e expectativas do paciente, ao mesmo tempo que maximiza a eficácia do tratamento.

Se tem valores de tensão arterial elevados ou necessita de acompanhamento médico personalizado, deverá marcar uma consulta com um médico, de maneira a estudar o seu caso e adequar um tratamento anti-hipertensor.

5 Pequenos-Almoços Fáceis e Saudáveis

Para começar o dia com energia e disposição não deve faltar um pequeno-almoço saudável e nutricionalmente equilibrado. Não é preciso despender muito tempo para dar um boost nutricional ao seu prato de pequeno-almoço.

Neste artigo damos-lhe algumas sugestões de pequenos-almoços saudáveis e fáceis de preparar. Não só o ajuda a começar o dia com nutrientes essenciais para o correto funcionamento do corpo, como também lhe proporciona energia para enfrentar o dia com qualidade e boa disposição.

Iogurte Natural com Arroz “Puff”

Ingredientes:

  • 1 copo de iogurte natural
  • 3 colheres de sopa de arroz “puff”
  • 1 punhado de fruta variada à descrição: frutos vermelhos, banana, maça, manga, pêssego
  • 4 nozes pecan (pode adicionar qualquer outro fruto seco, ou semente)
  • 1 colher de chá de mel

Numa taça coloque o iogurte natural. Adicione o arroz “puff” e os restantes elementos. Regue com mel.

Sabia que…

  • O iogurte natural é uma excelente fonte de probióticos, que promovem uma flora intestinal saudável
  • Frutas como os morangos, framboesas e mirtilos são ricos em antioxidantes e vitamina C.
  • O mel é um adoçante natural

Tosta de pão escuro com abacate e ovos mexidos

Ingredientes:

  • 1 a 2 fatias de pão escuro
  • 1/2 abacate maduro
  • 2 ovos
  • Sal e pimenta a gosto
  • Frutos vermelhos a acompanhar

Torre a fatia de pão. Esmague o abacate com o garfo e espalhe sobre o pão. Numa frigideira antiaderente, mexa os ovos até ficarem cremosos. Coloque os ovos mexidos sobre o abacate. Tempere com sal e pimenta. Sirva com uma porção de frutos vermelhos a gosto.

Sabia que…

  • O pão escuro, tal como o pão de centeio ou integral, é rico em fibras, promovendo a saciedade
  • O abacate é uma fonte de gorduras monoinsaturadas benéfica para o coração
  • Os ovos são uma excelente fonte de proteínas completas e vitamina D

Panquecas de aveia

Ingredientes:

  • 1 Chávena de flocos de aveia
  • 1 Chávena de leite (utilizo vegetal)
  • 1 ovo
  • 1 banana madura
  • 1 colher de chá de fermento em pó

Num liquidificador misture todos os ingredientes até obter uma massa homogénea. Aqueça uma frigideira antiaderente e coloque pequenas porções da massa, formando panquecas. Cozinhe até aparecerem bolhas na superfície e vire. Sirva com frutas frescas da época e regue com um fio de mel (opcional).

Sabia que…

  • A aveia é uma excelente fonte de fibras, ajudando a regular o trânsito intestinal
  • A banana adiciona doçura natural e potássio, essencial para a função muscular
  • O leite e ovo fornecem proteínas e cálcio, importantes para a saúde óssea

Tomatada com tosta de ovo cozido e abacate

Ingredientes:

  • 1 Fatia de pão integral
  • 1 ovo cozido
  • 1/2 abacate
  • 1 tomate
  • 1/2 pepino
  • Sal e pimenta q.b.
  • 1/2 Limão & coentros q.b. (opcional)

Torre a fatia de pão. Coza o ovo até obter a consistência pretendida. Fatie o ovo cozido e o abacate, colocando-os sobre o pão. Tempere com sal e pimenta. Prepare uma salada simples de tomate e pepino cortados aos cubos, temperada com azeite e 1 pitada de sal. Pode regar com umas gotas de limão e adicionar coentros para mais sabor.

Smoothie Verde

Ingredientes:

  • 1 chávena de espinafres frescos
  • 1 banana madura
  • 1/2 manga
  • 1 chávena de água de coco
  • 1 colher de sopa de sementes de chia

No liquidificador, colocar todos os ingredientes e bater até obter uma mistura homogénea. Sirva de imediato.

Sabia que…

  • Os espinafres são ricos em ferro e vitamina K.
  • A banana e a manga adicionam doçura natural e fornecem fibras e vitaminas
  • A água de coco é hidratante e rica em eletrólitos
  • As sementes de chia são uma boa fonte de ácidos gordos e ómega-3

Reflexões sobre a importância de começar bem o dia

Incorporar um pequeno-almoço saudável e equilibrados na sua rotina diária pode ter um impacto significativo na prevenção de doenças e na sua saúde em geral. Começar o dia com uma refeição nutritiva ajuda a estabilizar os níveis de energia, melhora a concentração e promove uma digestão saudável. As receitas que partilhei acima são exemplos simples de como se pode garantir uma alimentação rica em nutrientes logo pela manhã, sem comprometer o sabor ou necessitar de muito tempo de preparação.

É essencial variar as frutas de acordo com a estação do ano, diversificar as sementes e frutos secos para aumentar o valor nutricional do seu pequeno-almoço. A diversidade é a chave!

Para orientações personalizadas às suas necessidades, deverá contactar um médico ou nutricionista.

Sumo de Laranja e Diabetes: Existe uma relação?

A diabetes é uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, e a sua prevalência aumenta a cada ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a diabetes foi responsável por 1,5 milhões de mortes em 2019, sendo que 48% dessas mortes ocorreram antes dos 70 anos. Apesar da taxa de mortalidade associada a esta doença ter diminuído em Portugal, ainda é significativa. Por isso, é essencial compreender a doença e como a podemos prevenir. Neste artigo vamos dar-lhe a conhecer as bases científicas da diabetes, explicar como o que comemos (ou bebemos) pode influenciar o curso da doença e quais as suas consequências a curto–e longo-prazo. Para tal, apresento-vos o caso clínico do “Sr. Barbosa”, um nome fictício de um exemplo real.

 

 

O que é a Diabetes?

 

A diabetes, frequentemente referida como “a doença silenciosa”, é uma condição crónica que reduz ou impede a capacidade do corpo de utilizar a glicose, o principal tipo de açúcar no sangue, para obter energia. No centro deste problema está o pâncreas, um órgão vital que produz insulina, a hormona responsável para garantir o correto metabolismo da glicose. Quando a insulina se encontra em falta ou se torna ineficaz, a glicose acumula-se no sangue, criando um desequilíbrio prejudicial que leva ao desenvolvimento da diabetes. Essa disfunção metabólica, se não for tratada e rigorosamente monitorizada e controlada, pode desencadear uma série de complicações graves, danificando os vasos sanguíneos, nervos, rins, olhos e até mesmo o coração.

 

Tipos de Diabetes

 

Existem dois tipos principais de diabetes:

 

  • Diabetes Mellitus Tipo 1: De origem autoimune, o sistema imunológico ataca e destrói as células beta no pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. A falta absoluta de insulina leva a níveis elevados de glicose no sangue;
  • Diabetes Mellitus Tipo 2: Caraterizado pela resistência à insulina pelo corpo ou pela produção insuficiente de insulina. Este tipo de doença é o mais comum e está frequentemente associado a fatores de risco modificáveis, como a obesidade, sedentarismo e má alimentação. É aqui que a medicina preventiva pode atuar eficazmente.

 

A diabetes não controlada pode levar a várias complicações graves em diversos órgãos do corpo:

  • Doenças cardiovasculares: aumenta o risco de doenças cardíacas como a doença coronária e enfartes, hipertensão, AVCs e tromboses.
  • Doenças renais, levando à insuficiência renal.
  • Afetação dos nervos (Neuropatia diabética): em estados mais avançados, pode haver perda de sensibilidade, formigueiro e dor principalmente dos pés. É por este motivo que os doentes diabéticos realizam frequentemente a consulta do pé diabético, com um/a enfermeiro/a especializado.
  • Afetação ocular (Retinopatia diabética), que pode conduzir à perda de visão.
  • Amputações, principalmente dos pés. Isto ocorre em casos limite.

A deteção precoce, o controlo adequado dos níveis de glicose no sangue e ter um estilo de vida saudável são medidas essenciais para prevenir estas complicações.

 

Como se diagnostica a diabetes?

 

A diabetes nem sempre se apresenta com sintomas óbvios, mas existem alguns sinais que nos podem ajudar a identificar a presença desta doença. Perante uma suspeita de diabetes, é fundamental procurar ajuda médica. Através de uma análise individualizada e exames específicos, poderá obter um diagnóstico e discutir com o seu médico um plano de tratamento.

Sabia que existe uma calculadora oficial do risco de desenvolver diabetes tipo 2 através do portal do SNS 24? Já calculou o seu risco?

 

Sintomas de Diabetes

 

Nesta secção descrevemos os sintomas típicos desta doença crónica. No entanto, alguns destes sintomas não são específicos, podendo estar presentes noutras doenças.

  • Urinar com mais frequência, especialmente à noite;
  • Sede excessiva, levando a um aumento da ingestão de líquidos e à presença de boca seca.
  • Perda de peso inexplicável
  • Fadiga e falta de energias, mesmo após descansar
  • Visão turva
  • Cicatrização lenta de feridas abertas.

 

Lembra-se do Sr. Barbosa? Conseguimos identificar alguns sintomas que nos fazem suspeitar de diabetes, tais como o cansaço extremo e a sede incontrolável. De seguida, discutimos os seus hábitos alimentares e estilo de vida. Não costuma ir ao médico, as últimas análises foram há 5 anos e já indicavam um estado pré-diabético. No entanto, ele decidiu não “fazer mais nada”. Diz fazer pouco exercício físico. A nível alimentar refere comer ao pequeno-almoço uma tosta com doce de morango e bebe 1 litro de sumo de laranja natural diariamente.

 

 

Exames diagnósticos

 

O primeiro passo na investigação da diabetes são as análises ao sangue. Valores como a glicose em jejum ou a Hemoglobina A1c confirmam o diagnóstico. No entanto, um único resultado anormal pode não ser suficiente para estabelecer o diagnóstico e pode ser necessário repetir as análises em 2 semanas. Na tabela abaixo encontra os valores de referência para a glicose em jejum e HbA1c.

Em algumas situações, como quando a glicemia em jejum está próxima do limite superior dos valores normais, pode ser útil a realização de um teste de tolerância à glicose (PTOG). Este teste avalia a resposta do organismo ao açúcar através da medição dos níveis de glicose no sangue em diferentes momentos: em jejum, 1 hora e 2 horas após a ingestão da glicose.

O Sr. Barbosa realizou exames de sangue que confirmaram o diagnóstico de diabetes tipo 2. Preocupado, o Sr. Barbosa quis saber mais sobre esta doença e como tratá-la. Juntos, criámos um plano de ação para diminuir os valores de glicose e de HbA1c. Em primeiro, decidimos referenciá-lo para uma avaliação oftalmológica e uma consulta do pé diabético. Posteriormente, enviei-lhe orientações alimentares e de atividade física personalizadas aos seus gostos e atividade profissional e familiar.

 

Alterações do Estilo de Vida: O pilar na gestão da Diabetes

 

A diabetes tipo 2 está frequentemente associada a fatores de risco modificáveis tais como a obesidade, o sedentarismo e a má alimentação. Adotar um estilo de vida saudável ajuda a prevenir ou atrasar o desenvolvimento da doença.

 

Alimentação Saudável

Uma dieta nutritiva e equilibrada é vital para controlar os níveis de glicose no sangue. Priorize alimentos ricos em nutrientes essenciais, com pouco teor de gorduras saturadas e pouco açúcar. Dê ênfase aos alimentos frescos, legumes e vegetais, bem como a proteínas magras. Também, diminuir o consumo de alimentos processados e bebidas açucaradas pode baixar o risco de diabetes.

 

Ao dar preferência aos alimentos com baixo índice glicémico, ajuda o organismo a dirigir e absorver mais lentamente os nutrientes e diminui consequentemente os níveis de açúcar no sangue após as refeições. Queremos manter os níveis estáveis de glicose e evitar picos bruscos.

 

Lembre-se, uma alimentação saudável não é uma alimentação restritiva. Explore vários ingredientes e métodos de preparação. Familiarize-se com novos sabores!

 

O Sr. Barbosa aprendeu os básicos da alimentação na diabetes e saber quais os alimentos com menor índice glicémico ajudam-no a tomar decisões em prol da sua saúde. Apercebeu-se que o sumo de laranja natural bebido diariamente não é tão saudável como achava e agora bebe água que aromatiza com ervas aromáticas e fruta. A nutrição será um dos seus maiores aliados nesta jornada.

 

Atividade física regular

A prática regular de atividade física é outro componente essencial. É tão simples como caminhar 30 minutos diariamente — Reduz os níveis de açúcar (e colesterol!) no sangue, mantém um peso saudável e melhora o humor. A OMS recomenda 150 minutos semanais de atividade física moderada.

 

Controlo de Peso

A obesidade e sobrepeso são fatores de risco significativos para o desenvolvimento de diabetes. Quando o corpo tem mais gordura, precisa de mais insulina para regular os níveis de glicose do sangue. Com o tempo, este aumento da demanda de insulina leva ao “burnout” do pâncreas. Eventualmente, o pâncreas não irá mais conseguir produzir insulina e os níveis de glicose aumentam. Isto é a diabetes!

 

Foi também comprovado que a gordura ao redor da cintura é especialmente preocupante. As células na região abdominal produzem moléculas pró-inflamatórias que contribuem para a resistência à insulina.

 

Um perímetro abdominal superior a 94 cm no homem ou 80 cm na mulher em conjunto com um IMC maior que 25 pode levar a um aumento do risco de desenvolver diabetes.

 

Gestão do Stress

Controlar os níveis de stress crónico pode ajudar a manter a estabilidade dos níveis de glicose no sangue e o bem-estar geral. A prática de técnicas de relaxamento como o yoga, a respiração e a meditação são algumas sugestões com benefício para muitos utentes.

 

Medicação hipoglicemiante

A indústria farmacêutica fez avanços significativos ao longo dos anos, tendo sido desenvolvidos uma série de medicamentos para o controlo glicémico na diabetes. Nem sempre é necessário iniciar medicação e em determinados casos é possível controlar a doença apenas com mudanças do estilo de vida.

 

No entanto, muitos utentes necessitam e, cabe ao seu médico, após colher toda a sua informação clínica, estabelecer objetivos, personalizar o tratamento hipoglicemiante mais adequado e reavaliar frequentemente a adesão terapêutica.

 

Desvendar a diabetes e caminhar para uma vida mais saudável

A Diabetes, embora silenciosa, não precisa de ser uma sentença de sofrimento crónico. Através da informação científica, consciencialização e adoção de um estilo de vida saudável, podemos prevenir, retardar a doença e/ou as suas complicações e, em algumas situações, até mesmo reduzir a quantidade de medicação.

 

O caso do Sr. Barbosa serve como lembrete de que nunca é tarde para tomar as rédeas da sua saúde.

 

Pontos-chave para recordar

  • A diabetes é uma doença crónica que afeta a capacidade do corpo de utilizar a glicose como fonte de energia;
  • A diabetes tipo 2 é a mais comum e está frequentemente associada a fatores de risco modificáveis com a obesidade, sedentarismo e má alimentação;
  • A deteção precoce e controlo rigoroso da glicemia são essenciais para prevenir complicações graves;
  • Adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma alimentação equilibrada, atividade física regular e controlo do stress é fundamental. Em alguns casos, sob orientação médica, pode ser necessária a associação de medicamentos hipoglicemiantes.

Dicas para o dia-a-dia

  • Consulte o seu médico regularmente para acompanhamento e avaliação ;
  • Realize exames de rastreio, quando recomendados;
  • Monitorize os níveis de glicose no sangue;
  • Participe em grupos de apoio ou programas de educação em diabetes
  • Mantenha-se informado sobre as últimas diretrizes no tratamento e gestão da diabetes.

Lembre-se que não está sozinho. Com o apoio e recursos certos, poderá viver uma vida plena e mais saudável.